30 de dez. de 2011

ÚLTIMO POEMA DE AMOR

Hoje, depois de um dia de trabalho árduo,
de salto alto, batom e rímel, completamente
sóbria, determinada e destemida, escrevi
o último poema de amor. Absoluto e triste
como um carvalho tombado com orquídeas
brancas em flor, ele tinha seu nome inteiro
em cada palavra. Digno e patético de tanta
seriedade e dor, eu lhe disse não e o rasguei
em mil pedacinhos antes de pôr no reciclável.

28 de dez. de 2011


















que sei do sentimento   
que vibra sob a pele 
e
trinca palavras
que é 
bruto e sem nome
água pura da fonte
ou
vapor
da felicidade ?

26 de dez. de 2011

intro_

sua
glande
lábia

sua
pará_
bola

seu
veneno
e
s
c
o
r
r
e
n
d
o
.
.
.


...grandes
e pequenos
lábios

adentro


valéria tarelho

drummond & lavoisier

esgotei a minha tinta
e o estoque de papel
pra te escrever um poema

(: presente de papai noel)

mas sem caneta e sem folha
procurei a rosa vermelha
que guardei dentro de um livro

e te dei este poema inefável
(exercício irreversível
que a natureza reciclou)

21 de dez. de 2011

In


Me ame por enquanto
Me beije por enquanto
Ilusório 
Infinitamente provisório
Ofegante e repetitivo
Outra vez, mais outra
Não sei quantas
Mas por enquanto mais vezes
Hoje e daqui a pouco
esfuziante e louco 
desejo ou sorte
ou
qualquer coisa de morte

19 de dez. de 2011

Lavoisier recitado

dos papéis de antes

e palavras de outrora

ao papel e palavras

de agora

em concreta forma

se transforma

o poema

exercício irreversível

que a natureza

reciclou

lONeLINEss



imagem: The Facebook Wall , um projeto de Ben Barry

16 de dez. de 2011

NADA

Estou mergulhada.

É um bom começo,

Mesmo que não saiba nadar.

Nada de pânico, nenhum tropeço,

Uma braçada curta e devagar,

Do fundo ao centro, mar adentro

Para não morrer na praia.

14 de dez. de 2011

Não estamos perdidas





Nestas tardes de cafés de Paris
vamos fumar a vida Chloé
antes que tudo
sonho cigarro café
acabe
e nos deixe aqui
vendo essa gente passar
sem passarmos




Neide Archanjo

9 de dez. de 2011

DEVOLVER

O poeta cego

escrevia num braile áspero

de ferir os dedos.

As palavras

Esfolavam-lhe as mãos,

Mas saltavam aos olhos,

e aos sentidos dos leitores.

Ele via o mundo

Da escuridão e o devolvia

tinindo em cores.

7 de dez. de 2011

pirraça



Lá longe
ela
fica valente
toca em frente
a fila anda
Mas de perto
se me olhar
desanda








6 de dez. de 2011

Loba


A floresta é a minha capa,
é lá onde eu corro no escuro

e como
quem passa

o Lenhador me devassa,
se entrega,
se expõe aos perigos
pra ver se aos poucos

me acha.

5 de dez. de 2011

reflexo











a lua vai
rondando a terra rodando
a lua vai a lua
palco de guerra

 (: são jorge de espada na mão
sobre o cavalo escalpa o dragão)

 a lua vai apaixonante vai
a lua vai enluarando vai
a lua vai e finalmente
cai

 (brilha na água o luar
e o raul coitado
narciso apaixonado
acha o lago um espelho)


keep walking

imagem via  Google imagens


tomei coragem
destilei veneno
brindei sua morte
em copos de malte
baldes de gelo

babei espumei
cuspi seu nome
com johnnie walker
[on the rocks]

você a seco
"sweetie"
é porre


valéria tarelho

4 de dez. de 2011

1 de dez. de 2011

a quatro olhos

denisewarnecke e ítalo puccini

deserta, despago-me de quereres e quem sabe de sonhares.
abandonada ao eixo torto da palavra, atropelo letras e papel.
meus dois olhos fervem versos, inveja

branca. é assim que escrevo o mundo.
em folhas de papel também em branco.
é preciso ser escuro para ler.

30 de nov. de 2011

id



Pelas costas
Quadris cintura
 Na envergadura do amor 
 a doce vontade 
de ser
bicho sem fala 

Grunhir
nem sentir

29 de nov. de 2011

Separação de Corpos


Eu, camiseta, calcinha
e meia amarela,
Le(n)do Ivo
- destesto novelas -

Ele, cueca samba canção,

apenas um pênis
que não mais me apetece
e assiste ESPN.

28 de nov. de 2011

24 de nov. de 2011

da viviane mosé


o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina



sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma

(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença).

_ _ _ 
(do livro "pensamento chão").

23 de nov. de 2011

Convidada


Gravura e poema de Xenia Antunes,
minha  convidada  desta quarta.

Um café



Quando o amor for breve
seja leve
invente  comidas
evite feridas
porque  cortes pequenos
não doem menos

Leve  um sobretudo 
(vai precisar) 
Contudo
Faça  um café
Questão de ética
Um gole mudo
um beijo
adeus
ou
 até.


Neusa Doretto





21 de nov. de 2011



A noite nunca é escura

quando você está nela

quando te puxo pra perto

entro

e escancaro tuas janelas...

pantomima


prefiro o gesto à palavra
sou mais o não dito subentendido
no jeito mundo que ele me toca
me toca fundo
essa cena muda
me deixa úmida
in loco

valéria tarelho
* em Germina Literatura
** foto via Google Imagens

des-mito


não lamente o desfeito plano:
mito engano que o tempo prometeu.
aconteceu. não tem mais jeito.

18 de nov. de 2011

ROMÂNTICA DEMAIS

Um beijo qualquer, distraído, sem sentido de futuro ou ocasião.

Um beijo de língua com a calma e o deleite de picolé no verão.

Um beijo, só o beijo, sem tempo, sem abraço, volúpia nem mão.

Um beijo, me lembro e o guardo, às vezes sonho, mas você não.

17 de nov. de 2011

metáfora?

quando venta
e você deixa a janela fechada.

ítalo.

14 de nov. de 2011

ceia láctea



sugar estrelas
nos mamilos
da galáxia

e a seguir
comê-la
:
anseio


valéria tarelho








observava a rua
com olhos infinitos
e cabalísticas intenções

(: enraizou-se anti-profético
à sombra da sete-copas
admirando o redemoinho de folhas secas)

s.olivio

11 de nov. de 2011

DOCE POEMA CURTO


O pior está condensado

No leite do sofrimento

Derramado em 3 linhas

Em busca de ambrosia.

10 de nov. de 2011

metade não dá

abri mão do mundo
por mim mesmo.

(juntava e afastava os dedos
da mão direita -
a que escreve e a que vira páginas -

e dali fui me despindo
de tudo o que estava
em mim
e não me pertencia
- pelo menos não neste momento).

sê inteiro
para ser do outro.

melhor ainda:
para ser com o outro.

ítalo.

9 de nov. de 2011

Da vida





-Isso
da alegria passa
sem
deixar
pegada
alguma
E o grande amor
da vida
é a pele exposta ao sol:
Doura
embeleza
descasca
e cai


( Livro da Tribo 2012, pag.:286)



Mão única





Falta a voz
O abraço e a alma ancorada.
Falta a vida vivendo nos meus olhos
Que a vendo
viam mais
e viam além

Mas vivo sem.

8 de nov. de 2011

Dois pra lá, dois pra cá


Conjugar
o verbo dançar
é fácil demais:

eu brinco
tu colares
eles iguais.

7 de nov. de 2011

comedida

ilustração via Google imagens


engole sapos
tem papas na língua
em um ataque de modos
respira fundo
incorpora midas
doura a pílula

engana
sua fome de fúria
não sacia
sua gana de ira

vive de saco cheio
morre de boca
v_azia


valéria tarelho



nu e nulo
a visão do abismo
sem asas
:
um risco
um toque
um dígito –
so(m)bras do poema


s.olivio

4 de nov. de 2011

QUE COR DE BATOM?


Cedo demais pra ser verdade,

Claro demais pra ser marrom,

Barato demais pra ter qualidade,

Doce demais pra ser bom,

Bonito demais pra não ter maldade,

Sincero demais pra ser de bom tom.

Com tantas crenças arraigadas,

A realidade surpreende, assusta

Até, quando mostra a cara lavada,

Indiferente às preces, à pressa

Com que desces as escadas

Para o trem e à cor do teu batom.