30 de nov. de 2012

EOS


No emaranhado da crina do corcel,
Ficou um rastro de vento.
Esvoaçando o vestido da noiva,
Brinca levado o vento.

Destelha, parte, derruba,
Agita, levanta, tremula,
Varre, empurra, tudo muda de curso.

Velas inchadas, barcos velozes,
Guarda-sol rolando na areia.
Se abro os olhos vejo vindo a tempestade
E me pergunto se sou eu quem a semeia.

28 de nov. de 2012

A fila anda















Falta  a voz
o abraço e alma ancorada.
Falta o brilho nos meus olhos que a vendo viam mais
e viam além.

Mas vivo sem.

24 de nov. de 2012


por mais que se alongue
o dia o dia adia
qualquer palavra
e a palavra ausente ardente-
mente desejada
vadeia vadia
vazia
nas ruas ora escuras
da minha escusa
confusa inédita
poesia
 

sidnei olivio

23 de nov. de 2012

ARCO-ÍRIS



Para o sono, o calor e as fomes
Existem fáceis preto, branco
E alguns minutos de cinza.

Para o medo, o amor e as dores
Existem cores tão difíceis
Que nem Freud explica.

21 de nov. de 2012

Assim



Agora você volta
me alicia
Escolta
um amor
se delicia
num  beijo

Foi esmola
Meu bem
Agradeça
e
me beije também

Neusa Doretto

19 de nov. de 2012

flor-de-alice

Alice Ruiz - Foto de Vilma Slomp


li
aqui ali

cedi

aos vice versos
que [es]colhi
pela ruiz


valéria tarelho
* Vice Versos – Alice Ruiz, 1988 (Prêmio Jabuti de Poesia – 1989)


16 de nov. de 2012

EIS

À luz vê-se bem
Que ter não é ser.
Mas ser é sempre
Uma questão quase
Nunca esclarecida
Mesmo quando feita
A pergunta
Pois, se tu estás pronta
Para ouvir, a vida
Demora em responder.

14 de nov. de 2012

efeito























Eu poderia ser rude
desfiar lesões e mágoas
afogamentos sem tábuas
de salvação
Eu poderia listar os enganos
sob os panos quentes
que esfriaram a paixão
Mas não
Fiquei imune
endurecida
como essas plantas de chão


Neusa Doretto

12 de nov. de 2012

utopia





onde a poesia impera
violência é fictícia
bala é doce

polícia e ladrão
não passam de mera
diversão:

brincadeira
de criança


valéria tarelho

* imagem via flickr de Rafael Romero

9 de nov. de 2012

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO



Ninguém aguenta
a ver correndo
de um lado e outro
um caminho curto,
mas borrifado
com entorpecente
que faz a barata tonta
de pata lambuzada
com crème brûlée
fora da geladeira,
em dia quente
e, até então, amargo
sonhar em ser
exímia patinadora.

7 de nov. de 2012

Eu, você e o gato




Sinto muito,mas cansei. É um não aguentar todo dia de pensar que você existe em algum lugar do mundo e ainda não veio pra mim. Fica dando volta por aí, de coração em coração,de abraço em abraço; enquanto que eu, aqui, escassa e pequena, cresço na conta da solidão.Sinto muito, mas cansei, nem eu pago a minha conta . Agora sou cheque sem fundo e levarei à falência qualquer ilusão. Sinto tanto ficar por aqui, no plano da realidade,com meus pés entre os pés da cadeira e já não ter o sonho. Meu Deus, me salva dessa mesmice, me estufa de alegria ,  me solta na mão de uma criança ou no miado de um gato; desse que mora pelos telhados, preso a nada, com mais seis vidas no bucho ainda.Que não dou conta  dessa .Sem pulo nenhum.

5 de nov. de 2012

solução




bom gosto: vinho
de antiga safra

bom susto: suco
de água com açúcar

bom mesmo
é [en]tornar líquida
a vida árida
que nos liquida


valéria tarelho
Safe Creative #1104088929266

"A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é líquida."

[trecho de Alcoólicas - Hilda Hilst]

*imagem: 4 stages of life

2 de nov. de 2012

PETIT ENSEMBLE




                      
    

Camisa de força –
Moda para poucos.
LOUCURA
É pagar 10 mil numa bolsa
E crer que algo mudou.


Feijão com arroz –
Cardápio do dia, todo dia.
ROTINA
É para ser só hoje,
2 de novembro.